Terça-feira à noite numa pizzaria, eu e meu filho falávamos sobre o tempo de sofrer por alguma coisa, qualquer coisa que fosse, sobre a necessidade de nos permitirmos sofrer. Então dei um exemplo a ele de algo que havia acontecido comigo recentemente.
Após o término de um relacionamento, com medo do tempo que levaria para me readaptar à minha rotina sem aquela pessoa, fiquei meio que “sem noção”. Sem pensar, tentei substituir aquela pessoa imediatamente, o que acabou por me render algumas tentativas, que mesmo tendo sido boas em um sentido, também foram ruins em outro. Caí em mim e disse para mim mesma: “Carolina, se permita sofrer, chore logo de uma vez e pronto”. Então literalmente chorei. Fiquei triste alguns dias e tudo passou. Não passou de um dia pro outro, mas começou a passar ali, até que tudo foi embora naturalmente.
O fato é que, independente da dor e do sofrimento, sempre queremos evitá-lo a qualquer custo. Só que o preço que se paga, acaba sendo muito maior do que o inicial. Como seres humanos, automaticamente lutamos contra qualquer possibilidade de dor, quando o melhor seria aceitá-la.
Dor faz parte da vida. Perder alguém dói, perder um emprego dói, ser humilhado dói, mas não nos permitirmos vivenciar a dor, acaba doendo muito mais. A maturidade que a vida e as cabeçadas que dei nela me trouxeram, me permitem hoje um sofrer bem mais leve.
Também me lembrei do meu último inverno na Alemanha, quando sofria de um estado quase que constante de depressão. Para passar aquela detestável estação, acabei assistindo a série completa de “Dr. House” mais ou menos em um mês. Anos atrás eu provavelmente olharia com recriminação tal atitude de qualquer pessoa. “Que perda de tempo”, eu pensaria. Mas hoje eu apenas diria: “Faz bem pra você? Se sente feliz com isso? Então faça”.
Vivemos numa sociedade em que todos julgamos o outro de forma automática e constante, até mesmo sem pensar. Nossa dureza com o próximo é tão latente, que ela volta a nós mesmos, sem qualquer piedade. Assim não nos permitimos mais pequenos momentos, pequenos agrados ou até mesmo um período de luto que deveria ser vivido.
Hoje com uma maneira mais suave de encarar a dor, eu simplesmente disse a meu filho: “Se permita sofrer. Você não quer sofrer, mas se permita. Pare de tentar evitar esse sofrimento tornando-o maior do que ele já é. Deixe ele ser o que tem que ser. E quando você aceitar isso, esse sofrimento simplesmente virá, ficará um pouco e logo em seguida vai deixar você”.
Viva o luto! De todas as formas possíveis. Viva, no sentido de vivenciar, porque tem que ser, somos humanos e não há escapatória, faz parte do decorrer inevitável de nossas histórias.
E viva, no sentido de celebração, porque sabendo que é um mal necessário, a gratidão por ele, posteriormente nos torna melhores.
Se você sente uma dor hoje, se permita essa dor. Não lute contra ela. Todos temos nossas dores, algumas constantes, outras passageiras. Cada um com o seu fardo. Mas para não tornar o seu ainda mais pesado: deixe o seu luto acontecer! De todas as formas que tem que ser.
Já, já passa.
2 Comments
Excelente texto!! Estou amadurecendo paulatinamente com essa maravilhosa escritora . parabens!!
Que honra Silvana, muito obrigada e bem vinda!!!!!!!!!!!!!! Tenha uma otima vida!!!!!!!