Já reparou que às vezes um amigo vai e volta em diferentes períodos da vida? Isso porque a nossa história nos leva de um lado para o outro, tanto fisicamente, porque fomos morar em outro lugar, ou porque mossa mente foi numa direção e a do amigo foi em outra. Ou vice-versa.
Quanto mais o tempo passa, mais percebo que os amigos de verdade são poucos. E já há os que se foram, deixando muita saudade e pouca explicação para a falta que fazem.
Gosto de perceber o quanto as amizades e relacionamentos se encontram de acordo com o nosso nível de evolução, a fase em que estou passando na vida e o meu nível de consciência afetam diretamente as pessoas que estão ao meu lado.
E nessa dança da vida, há aqueles que vão e voltam, como se nada tivesse acontecido. Nos separamos por um tempo e depois voltamos com o mesmo nível de experiência, as mesmas aspirações, problemas e velhas afinidades.
Bom mesmo é isso: amizade que vai e volta, passa ano, sai ano, a distância pode até existir, mas a confiança está ali, as velhas piadas que ninguém mais entende, o olhar cheio de cumplicidade, uma palavra doce, o apoio incondicional de quem sabe quem você é.
Da mesma forma, fluem os que nos desgostam, e que com o tempo, os vemos como belos professores. Eles vêm e nos ensinam exatamente o que precisamos aprender, embora a lição não seja percebida de imediato. Leva-se tempo na maioria das vezes.
No fluir da minha vida, tenho o privilégio de ter grandes amigos. Décadas de amizade e cumplicidade, história, carinho, confiança e a certeza de um futuro que não será solitário. Num caminho de evolução, vemos o crescer um do outro, a transformação dos defeitos, nossos filhos que crescem, nós que crescemos e envelhecemos. O passado que fica velho e distante, junto a um futuro que nos amedronta de mãos dadas.
Não há palavras para definir o peso das amizades verdadeiras em nossas vidas. Temos pai, temos mãe, filhos, cônjuges, ex, namorados, parceiros e colegas de trabalho. Mas o papel daqueles que nos escolhem não é facilmente substituído. O apoio da adolescência, dos “chifres”, das inseguranças, da transformação da vida adulta, os problemas dos nossos filhos e o medo de envelhecer.
Quanto vale uma única pessoa que pode rir de todas as etapas de sua história com carinho e o sarcasmo de quem adquiriu esse direito por convivência? Quanto vale o olhar e o abraço de uma pessoa que amou e aceitou você em todas as fases de sua vida? Qual o peso deste apoio numa hora realmente difícil?
E os amigos que chegam? Os que ganham nossa admiração de imediato, com nossa percepção adulta e consciente?
Assim é a vida. Traz em nossa porta exatamente quem precisamos, na hora em que mais necessitamos. Dói quando se vão, mas alegra quando retornam. E se retornam.
Num eterno ir e vir, também somos vistos assim. Alguém nesse momento sente a nossa falta, um carinho e gratidão que irão além da vida.
No fluir sem fim de uma natureza que sempre se renova, só Deus sabe de onde vem toda a afinidade desse mundo e para onde ela vai.
Do lado de lá, espero rever os meus.
E seja onde for, como for, que esse ir e vir nunca termine.