É fato que quando temos a oportunidade de sair do mundo em que vivemos, temos mais condições de perceber outras culturas e assim compreender diferentes percepções de vida. Quando isto não acontece, sem saber, muitas vezes acabamos numa ignorante mesmice.
Um exemplo que experienciei quando vivi na Alemanha durante seis anos foi a ausência da ditadura da beleza entre as alemãs. Lá as modelos nas capas de revistas ou na televisão tinham seus quarenta anos e exibiam com liberdade suas rugas, marcas de expressão e defeitos como um nariz grande ou dentes fora do lugar.
O mesmo acontecia nas ruas, nos clubes ou numa academia, quando se constatava o desinteresse pela sensualidade, o ter que usar cabelos compridos e lisos, maquiagem, unha feita, bunda grande etc. As alemãs tinham outra cultura, que visava muito mais a liberdade e autenticidade das mulheres do que a obrigada beleza e inatingível perfeição.
Demorou um bom tempo para que eu mesma assimilasse aquela nova percepção como algo natural e posteriormente como algo muito mais leve para toda uma nação feminina. As mulheres se sentiam bem por quem eram e não pelo que aparentavam. Tinham bem menos preocupações que as brasileiras em relação a própria aparência e com isso menos sofrimento.
Com o tempo, tive a oportunidade de perceber que muitos países da Europa tinham valores similares. O que as mulheres são e fazem é mais importante do que sua aparência. Bem como o reconhecimento e respeito que elas recebem de toda a sociedade é muito maior.
Infelizmente no Brasil, muito ainda é cobrado das mulheres e pouco é reconhecido. As brasileiras trabalham fora e dentro de casa, enquanto na Alemanha os maridos dividem naturalmente as tarefas domésticas por igual.
Em nosso país, poucos homens e mesmo as mulheres aceitam com naturalidade uma mulher que não esteja dentro dos padrões de beleza considerados aceitáveis ao gosto do brasileiro e isto inclui desde peso, medidas, comprimento do cabelo, tamanho das nádegas até o estilo de roupa, cor do esmalte e comportamento. Mesmo alguns homens desprovidos de qualquer beleza se sentem confortáveis para exigir que as mulheres sigam um determinado padrão.
Nós brasileiras ainda vivemos uma sociedade machista, que considera que a beleza da mulher é responsável pela fidelidade de um homem, assim como a mesma deve se responsabilizar pela casa, pelos filhos e pelo trabalho, quando em países mais desenvolvidos tudo se divide. E fidelidade e lealdade ficam por conta do caráter de cada um e não da beleza ou características do outro (a).
Outro ponto que me chamou a atenção na minha experiência como estrangeira foi perceber a liberdade de homens e mulheres da terceira idade em reiniciar suas vidas amorosas depois dos setenta ou oitenta anos de idade. Há tanto respeito por quem eles são, que simplesmente não existe julgamento. É natural, como deveria ser em todo lugar. A terceira idade se relaciona, paquera, sai, se cuida e vive com dignidade!
Um dia, todos chegaremos lá.
Recentemente vivemos uma onda de discussões e radicalismo político em nosso país, que ultrapassa questões éticas, morais e do mínimo de educação e bom senso. Um episódio recente foram os julgamentos de duas senhoras já de certa idade, esposas de políticos conhecidos, sobre uma suposta falta de beleza. Um ataque que foi incentivado por homens e mulheres através de piadinhas na internet.
Se um dia a atriz Bete Faria teve que se expor para a mídia, afirmando que tinha o direito de ir de biquíni à praia e viver seu envelhecimento de forma digna, me pergunto, quando nós brasileiros e principalmente brasileiras, nos tornaremos pessoas de respeito ao ser humano, a ponto de jamais olhar uma pessoa pelo que ela aparenta, ao invés do que ela é.
Ninguém deveria ser julgado primeiramente pelo nível de beleza que possui. Ainda que seja por motivos profissionais, como modelos fotográficos ou artistas, mesmo estes tem o direito de envelhecer com dignidade.
Tempo passa para todos, as rugas chegam, os cabelos caem, os quilos a mais ou a menos ocorrem, homens diminuem de altura, todos perdemos a vivacidade e a boa musculatura. É normal. Não há de se ridicularizar ninguém jamais pelo que é da própria natureza humana.
Ainda que nunca se saia do Brasil, é importante olhar para outras culturas, outros valores e percepções. Nem tudo que vivenciamos é o melhor.
Toda cultura tem algo de valor a oferecer. Vale o bom senso para aquele que busca ser uma pessoa melhor a cada dia, analisar o que pode ser melhorado em suas próprias crenças e valores.
O famoso evoluir das redes sociais para a vida real.
Vivemos uma era de posts positivos. Saibamos colocar em prática o que postamos e curtimos, com a mesma gratidão e amor que faríamos com nossos pais e filhos.
A beleza está em primeiro lugar nos olhos de quem vê!
Sempre!