Se na juventude, solidão é algo que assusta, com a maturidade é item que se torna necessário e até mesmo bem vindo. Nos dias de juventude, mal se sabe, o quanto as companhias se tornam superficiais sobre novos pontos de vista que chegam com o tempo e o despertar de uma nova consciência.
Solidão é algo dolorido de quase todos os pontos de vista. Já sofri de solidão da pior maneira possível: aquela demorada, lenta, em que o olhar o relógio por vezes seguidas assusta, quando o ponteiro insiste em não sair do lugar. A vida como estrangeira me deixou marcas que muitos desconhecem. Mas também sofri o tipo de solidão acompanhada: o estar com alguém que parece não fazer diferença. A falta de afinidade e real companhia nos fazem aprender o que é estar acompanhado de verdade, do ponto de vista de nossa própria alma.
Fato é que, por vezes, estamos rodeados por pessoas que não nos enxergam. Falam sobre elas mesmas pelos cotovelos e nunca estão prontas para ouvir. E sequer um único olhar mais demorado acontece, aquele que nos alcança por dentro. Quase ninguém mais está disposto ou tem interesse de olhar ao outro de outra maneira que não seja superficial. Estão todos como que apenas diante de espelhos. Falam e agem apenas de acordo com e para si mesmos.
Estar acompanhado na sociedade atual tem sido algo questionável. Será que estamos acompanhados no nosso dia-a-dia? Quantos verdadeiramente se importam sobre como eu me sinto, quando passo por alguma dificuldade? Os vizinhos se importam? Os familiares? Nossos parceiros? De todos os que nos cercam, dia após dia, qual a parte que pararia sua rotina, para me ajudar com a minha? Quantos amigos deixariam de ir a uma festa, caso eu precisasse de um ombro amigo? Quem me ajudaria a arrumar a casa, se acaso eu estivesse impossibilitada? E quantos me trariam remédio, se eu estivesse de cama?
Viver em solidão é algo para ser avaliado hoje em dia. Alguém com quem almoço, mas que só troca um bate papo superficial, pode não fazer a menor diferença no fim do dia, se eu precisava de real companhia. Uma conversa furada, a fofoca desnecessária e as reclamações constantes, sobre quase tudo, são tão desnecessárias quanto a própria companhia de certas pessoas.
Estamos todos nos tornando tão superficiais e com medo de nos abrirmos para a pessoa errada, que caminhamos para um individualismo de forma coletiva e na maior parte de maneira inconsciente.
No decorrer das vinte e quatro horas do dia, que pela quantidade de atividades parece ter o triplo de horas e pela rapidez com que ocorre, a metade, nos perdemos de nós mesmos e não avaliamos mais o que acontece conosco e com a sociedade em que vivemos.
Estamos fartos da agressividade alheia, das críticas desnecessárias e da energia que dispendemos nos protegendo uns dos outros, seja no trabalho, na família ou na rua, com estranhos. Estamos cansados, mas seguimos todos pelo mesmo caminho.
Não à toa o velho ditado “Antes só que mal acompanhado” e nem a esmo o aumento do número de lojas de animais de estimação em todo o planeta.
Estamos descobrindo na pele, dia após dia, a dor de habitarmos um mundo com semelhantes que se tornam desnecessários. Aprendemos a viver sozinhos e de forma superficial. Como se a evolução estivesse embutindo um novo item de série na raça humana, versão século 21: vivem de forma individualista coletivamente, aceitando a superficialidade uns dos outros, na ilusão de não se sentirem sós.
E então somos auto indivíduos, não precisamos de ninguém, mas suportamos a superficialidade alheia, para não morrer de solidão por completo, embora continuemos estando e nos sentindo sozinhos.
Não se sentir só, estando acompanhado ou não, virou artigo de luxo.
https://www.youtube.com/watch?v=5x56ddBF7qQ