Avessa ao fanatismo pelo futebol e todo o glamour e riqueza à sua volta, também não sou torcedora de time algum, não conheço a maioria dos jogadores e nem me apetece a ideia de qualquer coisa que se aproxime deste mundo. Talvez por isso mesmo, não resisti, quando vi meu filho começando a ver um filme com o jogador inglês David Beckham, que se intitulava: “David Beckham into the unknown” (David Beckham rumo ao desconhecido).
Alienada do mundo futebolístico, minha imagem de David era apenas uma mistura das suas fotos com cuecas Calvin Klein e muitas outras ao lado de sua esposa Victoria Beckham. E apesar de sua inegável beleza, o jogador nunca me chamou maior atenção. Tenho que confessar que a futilidade do guarda-roupa da Sra. Beckham e toda sua preocupação em volta de tal assunto eram o que se sobressaíam para mim. E pronto: lá estava um julgamento desnecessário, uma vez que pré-julguei o casal pelo bom gosto em excesso da cônjuge por roupas boas e caras.
O filme logo de imediato mostra um homem comum por trás da celebridade. Me prendeu a atenção instantaneamente. Nem por um segundo o filme tentou mostrar o corpo sarado de David ou uma imagem do tipo. O documentário também não é sobre a Amazônia, ou ainda sobre a aldeia Ianomâmi, já que os visitantes passam alguns dias no local. Mas o filme mostra uma celebridade em busca de um refúgio: um lugar no mundo, onde ele pudesse ser simplesmente ele mesmo.
Beckham fica feliz ao não ser reconhecido. Ele faz reflexões e confissões sobre seu egoísmo com a família na época da copa. O pai que se emociona com cartinhas dos filhos escondidas em sua mala. Coloca fotos de cada membro da família ao lado de sua cama. Fica sete dias sem tomar banho e come com as mãos sem nenhum pudor. Sim, senhoras e senhores, Mister David Beckham bebe suco em potes sujos junto com habitantes da aldeia Ianomâmi, sem nenhum momento pestanejar. Passa por situações que ele mesmo decidiu passar e desejou vivenciar.
O senhor inglês aos trinta e oito anos de idade vivencia uma crise pela sua aposentadoria no futebol. Fica claro no filme: um homem em busca de si mesmo. O longa não tem nada demais, pouco se vê da Amazônia e da cultura de nosso país, mas muito se vê da simplicidade escondida atrás do mundo de glamour que a mídia é capaz de criar sobre uma pessoa.
A verdade é que não há muito o que se falar do filme. Mas muito do ser humano David. Eu que sou uma antítese viva desse mundo, que me parece ser rodeado de futilidade e mentira, me apaixonei pelo caráter e personalidade de uma celebridade que nem foi exibida no filme.
Para os fãs de Beckham, acredito ser um grande presente. Para aqueles, que como eu, são também contrários ao glamour exagerado e atenção exacerbada dada a esse tipo de pessoa, será no mínimo uma grande e bela surpresa.
Os noventa minutos de documentário não fala quase nada de futebol, não tem futilidades, roupas caras e chiques ou fotógrafos, mas o melhor que um ser humano pode ter em sua essência: o pai que sente saudade dos filhos, a pessoa que está aberta ao desconhecido e que se surpreende com a simplicidade alheia.
David Beckham é apaixonado pelo Brasil, mostra suas impressões de cada gesto nosso, seja numa favela, numa praia jogando futebol de areia ou numa aldeia indígena.
No lugar de Mister Beckham eu pagaria para não fazer a maioria do que ele fez, me fazendo desejar pedir desculpas pela imagem que eu tinha do mesmo. Se pudesse o parabenizaria. Não pela qualidade de seu futebol ou sua beleza nas cuecas Calvin Klein. Mas no caráter excepcional e simples que ele consegue manter, mesmo em um mundo tão estranho ao que ele mesmo parece ser.
Nice to meet you Mister Beckham!