Depois de um dos meus melhores amigos me perguntar vezes seguidas, se eu já tinha ido assistir “Relatos Selvagens”, eu finalmente fui conferir o longa argentino. Já em sua última sala, do último cinema em exibição em Curitiba, eu dei a sorte de seguir sua indicação.
“Relatos Selvagens” é hilariante, simplesmente genial!
Começa com uma das seis pequenas histórias: várias pessoas dentro de um avião, que não coincidentemente, percebem serem todas conhecidas de um personagem que nem aparece no filme: Gabriel Pastanak. A conversa começa despretensiosamente entre uma ex-namorada de Gabriel e um crítico de música. Tal crítico havia sido responsável pela eliminação do personagem em importantíssimo concurso. Em seguida, outra pessoa se manifesta como também conhecendo Gabriel, e assim por diante: um professor, um amigo, seu psiquiatra etc. Todos no avião eram conhecidos do Sr. Pastanak. E então os passageiros desesperadamente percebem que não estavam naquele avião por acaso. A aeromoça chega chorando e informa que o piloto do avião é ninguém mais, ninguém menos que o próprio. A cena termina congelada com o avião em frente a um casal de idosos em seu jardim de uma casa de campo. Certo é que todos morreriam na explosão de tal colisão.
A cena e a história são hilárias. As curtas narrações ocorrem de forma rápida, sutil, inteligente e engraçadíssima.
Apesar de eu já ter descrito a primeira história, vale a pena cada segundo da película. Entre uma narração e outra, fica clara a mensagem do filme: vingança!
Nós, seres humanos, somos seres naturalmente vingativos. Não engolimos aquilo que é indigesto. E apesar do conselho de Cristo: “Ofereça-lhe a outra face”, quase nenhum de nós tem realmente capacidade para tal. Do meu ponto de vista, isto nada mais é do que uma necessidade de equilíbrio. Sim! Equilíbrio.
Veja: se alguém na minha família me ofende, eu sinto necessidade de revidar sim. Não é apenas uma pessoa envolvida, mas toda a imagem daquela ofensa perante o meu sistema familiar. Eu revido de alguma forma: através de uma conversa, uma atitude ou reclamação, tentando restabelecer o equilíbrio existente naquele meio. O mesmo ocorre no ambiente de trabalho. Se alguém é injusto comigo, eu devo demonstrar que não aceito tal atitude, senão outros, da mesma forma, poderão agir comigo. Então, eu revido. Sempre pode vir a ser algo mesquinho (apenas falo mal desta pessoa, por exemplo) ou construtivo: converso e reclamo com a pessoa envolvida. Num relacionamento amoroso, flui da mesma forma. Caso contrário, sempre haverá um que leva o relacionamento nas costas, enquanto o outro se esbalda por fora.
Vingança é uma palavra que pode parecer pesada, mas ela só é assim, quando se trata de uma forma de reagir pior em relação à primeira ação que foi feita. Se falamos aqui de alguém com inteligência e boas intenções, a vingança será aquilo que resgata o equilíbrio numa determinada relação, seja a dois ou a mais.
“Relatos Selvagens” mostra o nosso lado mais mesquinho e fraco: o agir impulsivamente mediante ações que não gostamos. Há casos como: briga de trânsito, perda de ente querido por agiota, o rico se utilizando do pobre, abuso de sistema governamental e descoberta de traição no dia do casamento.
O que você faria se descobrisse, que a pessoa com quem acaba de casar, traiu você várias vezes com uma convidada que está na sua festa de casamento? E pior: ela é bem mais linda do que você. Ou, como você reagiria se pudesse preparar a comida daquele que foi responsável pela morte de seu pai?
“Relatos Selvagens” mostra situações do dia-a-dia às quais, todos vivenciamos em algum momento. A forma como os personagens reagem é realmente fantástico. Coisas que muitos de nós, realmente gostaríamos de fazer. Um alívio na alma nos colocarmos na pele de alguns personagens. Mas também um momento de profunda reflexão: quando percebemos a atitude mesquinha de uns e outros e nossos risos sobre tudo isso.
Afinal, quem ri com os relatos literalmente selvagens, ri também de si mesmo.
Selvagem seria não rir.