“Invadimos florestas tropicais e outras paisagens selvagens,
que abrigam inúmeras espécies de animais e plantas.
E dentro dessas criaturas havia tantos vírus desconhecidos”,
escreveu recentemente no jornal The New York Times David Quammen,
autor de “Spillover: Infecções animais e a próxima pandemia”.
“Cortamos as árvores; matamos ou os engaiolamos os animais,
e os enviamos aos mercados. Rompemos os ecossistemas
e liberamos os vírus de seus hospedeiros naturais.
Quando isso acontece, eles precisam de um novo hospedeiro.
Muitas vezes, este seremos nós.”[1]
O cenário inusitado que estamos vivendo diante da pandemia mundial Coronavírus parece ter revelado a complexidade do mundo que criamos e que nos embrama nesta presente situação. A palavra “complexo”, erroneamente utilizada como sinônimo de “complicado” é bem mais que isto. “Complexus”, origem latina de complexo que significa “o que inclui, o que rodeia” , o que é tecido junto e conceitua um conjunto de coisas, circunstâncias ou atos que estão ligados, entrelaçados entre si, onde o Todo é composto de diversas partes interdependentes entre si, a falta ou ignorância deste conhecimento , gradativamente , nos trouxe até este momento – para muitos ainda, inacreditável.
Pois é! O mundo é complexo e estamos aprendendo isto agora, na prática , no desconforto e na dor.
Há quem esteja mais preocupado com as intermináveis e infrutíferas discussões políticas reducionistas da nossa visão , em vez de, sensatamente , tentar se informar, aprender o que não sabia, refletir sobre o que está acontecendo e se reposicionar diante de si mesmo e da Vida!
Outros, preocupados em barganhar uma situação coletiva e caótica no momento em que vidas se perdem aos milhares no mundo todo, pela manutenção do seu status financeiro e muitos mesmo só percebem do cotidiano as mesquinharias, como a impossibilidade de manicure e pedicure semanalmente,. Mas a grande maioria está atônita – e o dinheiro no final do mês, e o meu emprego, minhas contas, o sustento da família?
Mas há também os que despertos na consciência , ou no susto do fogo cruzado são chamados a gestos de solidariedade e generosidade nas mais diversas circunstancias e modalidades – consigo mesmo repensando seu modus operandi na vida cotidiana, com os filhos, vizinhos , animais, instituições, causas publicas, com os profissionais da saúde, os caminhoneiros que promovem o abastecimento, pessoal da limpeza e segurança publica, bombeiros.
As redes sociais servem como termômetro (ainda que nem todo post seja vivenciado na prática) sobre a preocupação de cada um. Tem de tudo ainda por lá: política, educação à distância, serviços gratuitos, solidariedade, egoísmo e mesquinharia, busca ou excesso de informações, por aí vai , evidenciando a confusão generalizada de todos, que nunca sequer imaginariam um panorama deste.
O que fazer num momento como este? Primeiro respire! E tente recuperar a lucidez e bom senso, se é que você já tinha. Porque vai precisar muito deles.
Em termos de saúde, me parece que ficou bem claro desde o início, com a experiência de outros países: lavar as mãos e ficar em casa. No mais e na medida do possível, reflexões pessoais de que a vida não é só levantar cedo, trabalhar o dia inteiro, consumir tudo e pagar boletos.
Para que afinal, nós seres humanos habitamos este planeta do qual somos apenas parte e não donos que dispõe de seus recursos naturais com avidez e negligência, negando inclusive, direitos básicos de água, saneamento, alimento, habitação a outros milhões de seres humanos como nós?
Se pergunte, de que maneira você pode se transformar com esta situação. O que quer fazer quando o mundo voltar a girar novamente e de outra forma? O que é capaz de aprender com tudo isto? Pode se melhorar?
O Covid-19 veio mostrar a todos nós, que esse círculo vicioso interminável era passível de ser interrompido sim. E foi. Um momento único, silencioso, inexorável e até então impensável. Impossível será voltar ao mesmo lugar de conforto e alheamento de antes.
Inevitavelmente, pessoal ou coletivamente – cabe a cada um de nós com condições de pensar e refletir, irmos buscar nossa autorresponsabilidade nisso tudo: na análise de valores. que escolhemos eleger e praticar, e na ausência de infraestrutura e políticas públicas que nos ajudariam a atravessar momentos desta natureza.
Que este momento ímpar na história deste planeta não seja apenas de de medo e pânico – a serem esquecidos posteriormente – , mas sucessivos instantes de transformação contínua, quando o ser humano desiste do egoísmo e passa a ter um olhar mais amoroso, acolhedor e sustentável tornando viável uma verdadeira transformação mundial. O vírus globalizado que transformará uma humanidade inteira para melhor.
[1] https://sciam.uol.com.br/destruicao-de-habitats-cria-condicoes-ideais-para-o-surgimento-docoronavirus/?fbclid=IwAR2aAklO5xHE5WJWgOfWZMZBBXNtP5Uhe48eT5MNW9Y-tDIpRiTIkqDbnvc