Acostumada à correria do meu dia-a-dia e de meus colegas de trabalho, quase não tenho muito tempo de olhá-los à minha volta. Meu local de trabalho é uma sala enorme com cerca de vinte mesas e seus respectivos funcionários. Cada um com o seu próprio corre-corre. Ás vezes eu me forço a parar e dar uma olhadinha. É engraçado como quase ninguém faz isso. E então, ninguém percebe que está sendo observado.
Olhando ao meu redor, vejo um monte de gente trabalhando em seus computadores, falando ao telefone ou acertando um assunto com um colega. Alguns são mais engraçados, como o “velho” Chico, que insiste em falar portunhol sozinho. Ele fala, fala, ri alto, fala de novo, e às vezes ninguém sabe com quem ele está falando. Tem a Renata, que ri à toa e em alguns momentos, só ela sabe do que está rindo. Há os mais tímidos, que suas vozes quase nunca se ouvem. E aquelas pessoas, tão doces, que nem precisam falar para sentirmos sua doçura, como a Francine e a Elenice.
Na sala ao lado, separada por divisórias de vidro, não consigo ver todos os colegas, mas vejo o Paulo, que sorri quando me vê comendo durante o expediente. À minha frente está o Élcio, que todo fim de tarde começa a cantar algo inesperado, uma hora ele assobia uma música de rock e outro dia foi o Hino Nacional. O gerente de produção, Valdecir, está sempre ocupado, mas quando para tomar seu cafezinho, sempre passa por mim para dar um oi, trazendo um pouco de sua serenidade.
A empresa é grande e os colegas são muitos. Tem o Fernando, que diariamente passa por aqui e faz questão de pegar na mão de cada um e olhar nos olhos. Se ele não passa, eu sinto falta. Tem o mudo, que diz seu “Bom-dia” com as mãos e com a voz de quem não escuta. A Sandra vem mais devagar, diz bom-dia, conversa, beija e abraça. Cada um dá o que tem!
A Deise, logo ao meu lado, está nervosa. Mês que vem eu e a Silvia saímos de férias. Ela, que necessita soltar seus comentários durante o dia, vai ficar um mês sem suas companheiras de mesa ao lado. Tadinha.
A quantidade de pessoas querida que tenho à minha volta é enorme. E não digo apenas pelo número de pessoas, mas pelo número de qualidades que elas têm. Eu sinto que aqui as pessoas se gostam. Pode até haver as inevitáveis desavenças, mas o clima familiar é vivo, mesmo com todas as dificuldades atuais.
Apesar de cada um de nós vir aqui, para ganhar o pão de cada dia, acredito que essas pessoas acabam se tornando a nossa própria vida. Aqui eu fico no mínimo dez horas de meu dia, muito mais tempo do que passo com meu filho ou a sós, comigo mesma. Fico feliz e grata em dividir a minha vida com tanta gente de bem com a vida, e que apesar de não terem ideia de que são tão observados e queridos por mim, ainda assim todos eles me retribuem o que eu sinto, um pouquinho por dia.
Ninguém está vendo, mas eu estou olhando todos eles. E agradecendo a existência de cada um no meu dia.
E você? Já percebeu quem realmente faz parte da sua vida? Aqueles que estão lá, dia após dia, sem cessar?
Dê uma olhadinha! E se puder: ame! Que o amor volta pra você!
A gente precisa disso!
Tanto quanto o pão!