Mais uma vez na estrada, curtia o vento batendo frio em meu rosto e a paisagem verde no horizonte. Apesar da chuva incessante que se fez durante as cinco horas de viagem, a sensação de liberdade que senti foi algo novamente renovador. O prazer é tanto que me imaginei com asas, voando cada dia na direção de um amigo, cortando o alto das árvores com o vento, que balança cada folha e cada galho em meu caminho.
Não é apenas o vento que me traz essa sensação e menos ainda a velocidade que o carro me permite, mas a energia em movimento da própria vida, em cada viagem que me permito fazer. O sair do lugar, a mudança total de ares, de energia e de pessoas. Tudo muda, renovando o meu ser internamente.
A liberdade que sinto não tem a ver apenas com o pegar meu carro e dirigir para onde quer que eu entenda, mas a certeza profunda que sinto de estar no caminho certo: o de seguir os meus desejos e vontades. Hoje aqui, amanhã ali. Sem medo da estrada, sem medo do que estiver por vir. Aceitando as curvas e a imprevisibilidade da vida.
Aprendi a não ter medo do desconhecido. Completamente seduzida pela ideia de mudança, gosto do mudar de rumo, como muitas mulheres gostam do trocar de roupa. Fujo da mesmice com naturalidade e me sinto atraída por espíritos aventureiros. Espontaneamente aceito um convite diferente. Algo que eu nunca fiz? Que eu não sei fazer? Muito melhor.
Durante cinco horas me senti com asas. Senti uma liberdade que não cabia em mim. A certeza do poder estar em qualquer lugar, ir onde quer que fosse e ser o que bem entendesse.
Acredito que viajar deveria ser terapia. Toda viagem nos muda por dentro, nos permitindo ver além daquilo que víamos antes. Mesmo que seja logo ali, numa cidadezinha qualquer e sem atrativo algum. Mas um lugar novo, fora do lugar comum, que permite uma nova reflexão sobre qualquer coisa, um novo ponto de vista, um refletir diferente. O que nos muda de dentro pra fora.
Quanto mais eu viajo, mas sinto vontade de programar a próxima. Ou ainda nem planejar, mas anseio pelo momento então repentino, que pegarei a estrada em busca de uma nova sensação, junto à minha liberdade de ir e vir e de conhecer algo novo. Penso em quantos anos ainda terei, para conhecer o que ainda não conheci e as pessoas para as quais ainda não sorri.
Uma pena aqueles que se limitam a uma viagem por ano ou uma viagem na vida. Acomodados à uma iludida sensação de segurança, se tornam prisioneiros de suas chamadas zonas de conforto. Falso nome para algo tão nocivo à evolução de nosso espírito. Eu mudaria tranquilamente a palavra conforto pelo substantivo escravidão. Inúmeras pessoas que nem sequer se dão conta da pequenez em que vivem.
Que fique claro: para o viajar que nos muda internamente, não é necessária uma viagem cara à Europa ou à uma ilha paradisíaca no meio do oceano. A viagem que toca a alma só precisa de um lugar novo, para o qual antes nunca se foi, ou ainda um mesmo lugar, mas com novas pessoas e novos eventos. Eu que já conheci vários países, admito sem vergonha alguma que minhas melhores viagens não foram na Europa, Ásia ou África. Minhas melhores viagens foram mesmo no Brasil, ao meu redor, quando estava em paz comigo e na minha melhor companhia: eu mesma!
O estar em paz com si mesmo e ser quem se é, é o que torna qualquer viagem inesquecível. O se permitir ser um espírito livre, dono de si mesmo e como pássaro, um viajante dessa vida e desse mundo.
As melhores viagens não são necessariamente caras. A grande verdade é que as melhores viagens não têm preço, porque a liberdade de espírito, que nos é tão cara não se compra. E só nos é dada por nós mesmos, por uma consciência tranquila, de quem finalmente aprendeu a viver.
Vai espírito livre; viaja!