Hoje eu me permiti pensar em você. Senti sua voz e lembrei de toda afinidade que sinto. Por um momento.
Consegui por um instante, cessar os pensamentos que raramente me abandonam. A frieza e superficialidade do dia-a-dia, de onde eu não pertenço. O carma, que me suga a alma. O pão e a dor de cada dia.
Procurando válvulas de escape, pela ferida de não ter os meus. Afinal, onde eles estão, que nunca os encontrei? Não aqui, onde eu estou.
Por um momento você me salvou. As lembranças do que senti, quando em sua presença forte. E toda paz que isso me trouxe.
Sim, eu me permiti pensar em você.
Pela ferida enorme aberta em meu peito e pela fratura exposta, que ninguém vê. Pelas lágrimas que me correm por dentro. E o peso que carrego comigo.
Pela ausência de qualquer um, pelo crivo cada vez mais estreito de qualquer coisa ou alguém que me agrade. Pela vida que se torna menor, enquanto a dor se expande.
Até que ela se vá, talvez eu me permita um pouco mais o pensar em você. O acreditar que um dia poderia ser.
Uma fuga não para os beijos que nunca existiram ou toques de paixão alguma. Mas para os olhos que veem minha alma e a dor que carrego. Pelos braços que possam abraçar minha ferida e mesmo assim gostar de quem eu sou. Penso na afinidade da dor que sua sensibilidade é capaz de entender. Nas palavras que me diria, com o dom de me aliviar a alma.
Talvez eu pense um pouco mais em você. Preciso de uma ilusão para seguir em frente, para levantar e seguir o dia. Preciso da sua beleza interior para talvez me lembrar da minha. Talvez me livrar da culpa.
Me permita acreditar por um instante apenas. Me deixe, de coração, imaginar que um dia poderia ser um pouco mais. Crer numa ilusão, que me salve deste momento, da vontade de desistir, até mesmo do que mais amo.
Por um mundo que se mostrou tão duro, conforme a minha resiliência crescia. Em nome de uma evolução que me corta em mil pedaços. Pelas incontáveis vezes em que me reinventei, pelo cansaço de morrer e nascer de novo, pelos sonhos que me perturbam o sono enquanto deveria esquecer. Pela compaixão de sua sensibilidade e a tal afinidade, aceite de bom tom, que eu ao menos hoje, eu acredite.
Pelos meus passos que se tornaram pesados, pelas tantas voltas no mesmo lugar, pelo olhar baixo da minha própria autoestima. Pelos gritos correndo e batendo internamente em mim.
Por toda dor, deste momento. Se permita ser, apenas aqui dentro, aquele que me abraça e enxerga a minha dor, mesmo quando eu a escondo. E mesmo assim você a vê. Ainda assim.
Hoje eu pensei em você.
E isso me salvou.
Por um breve momento.
4 Comments
Que dor é essa que tanto lhe aflige?
Queria saber…
a dor de evoluir…. e tudo que envolve este processo….
Em momentos assim…seja quais forem os motivos…quando a dor nos toma e a coragem, momentaneamente, nos abandona, precisamos de uma referência interna que nos acolha, nos faça admirar de novo o mundo, nos abrace e afague até chegar o dia seguinte. Feliz aquele que dispõe deste ancoradouro dentro de si.
Obrigada Cris!