Não existe nada mais recompensador para um escritor, do que alguém ter sido tocado por suas palavras de alguma forma. A gente escreve não é pra se aparecer, pra ficar famoso ou qualquer bobagem do tipo. A gente escreve porque tem sentimentos demais dentro da gente, que imploram pra ser colocados pra fora. Se há amor e ninguém pra amar, a gente escreve. Se há dor e nenhum ombro pra chorar, a gente escreve. Se há saudade e não tem remédio, a gente escreve. Quando eu me sinto confusa, me sinto mais lúcida logo que finalizo um texto.
Arrisco dizer, baseando-me em mim mesma, que uma característica de quem escreve é a intensidade do sentir. O que torna o escritor solitário, pois afinal, quem é que entende a profundidade dele? A afinidade em sua intensidade é coisa rara.
Ter um texto lido e comentado por alguém é igual beijo. Não tem tanta graça se tiver que ser requisitado. Assim como o beijo roubado tem o seu valor, a surpresa do texto lido e comentado é prazer inestimável.
O escritor quer ser lido, ele precisa disso. É um dos seus alimentos. Mas o preferido é o que vem espontaneamente.
E tudo isso para comentar aqui sobre uma pessoa que vem acompanhando meus livros e textos há cerca de um ano. Uma moça mais séria e quieta, discreta como o que, mas com um dom de observação tremendo. Sabe aquela pessoa que está sempre ali e um dia você se dá conta, de que ela percebe tudo ao seu redor, da forma mais íntima possível? É de alguém assim que estou falando. E pra mim ela se tornou especial, amiga e confidente. Porque alguém que acompanha tudo o que eu escrevo, não lê apenas o meu trabalho, mas faz uma leitura da minha alma.
Ela sofreu e chorou com “A dor de Joana”, seu tipo preferido de leitura: drama. Chorou com os textos sobre cachorros e tantos mais. Em outros, se preocupou silenciosamente comigo, pois via o drama do meu sofrimento ao vivo: calado no dia-a-dia por trás de um sorriso e ao mesmo tempo escancarado em minhas palavras escritas.
Esta semana ela me disse algo que me foi mais do que um presente. Eu dizia o quanto é difícil pra mim, reler meus livros e me deparar com alguns textos, que hoje eu já não publicaria, pois não acho que são tão bons. E então ela me disse: “Me desculpe dizer isso, Carol, mas você tem que entender, que seus textos não seus. Cada um tem uma preferência e o direito de se identificar com os quais gosta ou não”. Suas palavras me calaram a mente naquele exato instante. Vi muita graça na parte do “me desculpe” e tanta doçura no resto.
De tantos elogios e comentários que já recebi e que tanto me motivam, creio que este foi o primeiro que me deixou literalmente sem palavras. Eu precisei de um tempo para processar as palavras dela, cheias de simplicidade e com o tal pedido de desculpas.
Eu não tinha percebido tamanho presente da vida, de minhas palavras já não mais me pertencerem. Daquilo que achava ser meu. E da grande surpresa na beleza de não mais me pertencerem.
O paradoxo do que era meu e me ser tirado, ser na verdade o meu maior e melhor ganho. Se meus textos já não são meus é porque eles ganharam vida própria, andam com suas próprias pernas. Eles simplesmente cresceram e se tornaram independentes. Os meus textos apenas passam por mim e saem por aí agradando ou ofendendo quem quer que seja.
E agradando ou não, eu só tenho a dizer: obrigada, mas meus textos não são mais meus!
2 Comments
Obrigada por colocar em palavras tudo que nós estamos sentindo!
“Somos todos descartáveis?”, bom este texto você escreveu maravilhosamente bem, tive a oportunidade de le algo que eu estava realmente sentindo!
Obrigada por compartilhar ?
obrigada vc Debora, por compartilhar aqui o q sentiu, isso é muito importante pra mim, obrigada. um beijo