Foram apenas dez minutos. Eu entrei em seu carro e lá estava aquele sorriso maroto. Pela primeira vez podia olhar em seus olhos mais de perto. De alguma forma, ele parecia não saber por que eu estava ali. Me ofereceu uma bandeja de brigadeiros para compensar um mal entendido. Me desviei depressa de tal bandeja e fui direto onde queria: em seus lábios. Com alguma resistência de risos e timidez, que em poucos segundos se transformaram em beijos ofegantes cheios de gemidos. Entre um beijo e outro, um pedido de “pare”, que eu entendia como uma tímida surpresa, ao mesmo tempo em que seus olhos e seus próprios lábios me pediam mais. Entre um beijo e outro eu olhava de perto aqueles olhos, tentando enxergar sua alma. Beijava seu rosto por vezes seguidas, colocando pra fora tanto carinho que já sentia. Mais que desejo, reconheci seu ser. Mas aqueles beijos despertaram mais do que admiração. Eles me deram de volta o querer que havia perdido. O cheiro que senti naqueles dez minutos, me fez esquecer o que estava vivendo. O poder tocar sua pele e ouvir seus risos tão de perto me permitiu não lembrar mais, o quão despedaçada estava por dentro. A sensação de causar seus risos parecia que cicatrizavam as feridas da minha alma por alguns instantes. Foram só dez minutos. Mas as sensações foram uma regeneração pelos dias e tantas semanas. Dias sofridos, de dor escondida, além da falta de amor. Como se aqueles dias não fossem ainda mais, a falta de amor sendo escancarada em minha vida. Mas nos dez minutos eu senti que talvez pudesse ser amor, que podia nascer, que iria enfim existir. Quem me dera pudesse eternizar aqueles poucos minutos, ter seus olhos só pra mim. Quem me dera o lembrar, me fizesse sentir sua boca na minha, minhas mordidas em seu pescoço, causando aqueles gemidos que me estremeciam inteira. Foram só dez minutos. Eu não comi nenhum brigadeiro. E ele nem sabe que aquele é o meu doce preferido. Foram só dez minutos, mas uma eternidade de plenitude. Um instante perfeito de ilusão, de tudo que não podia ser. Eu não sabia, mas ele não podia ser meu. Mas meu foi naqueles dez minutos. Pouco como este único parágrafo. E dentro dele tantas palavras, tantos significados, desejos e lembranças. Desejo do que não foi, dor pelo que não pode ser. Mais dez minutos na minha história, entre milhares de dez minutos que se passam e nem são percebidos. Esses dez minutos me trouxeram felicidade e amor, a plenitude falsa de uma dor que viria em seguida, a saudade de tudo que não será. Afinal, o que são dez minutos? Apenas seiscentos segundos. O que eles significam são lá outros seiscentos parágrafos.