Você já parou para pensar no poder que pode existir em um único momento? Nem que seja de apenas um segundo? O sorriso dado na hora certa, bem como o abraço, o aperto de mão, ou ainda um único olhar?
No filme “Tempo de Despertar” (1990) vemos a história real de um médico e seus pacientes com encefalite letárgica, internados num hospital psiquiátrico. O enredo verídico se passa no ano de 1969 em Nova Iorque. O médico neurologista Malcolm Sayer não encara seus pacientes como a maioria. Com o tempo Sayer estuda seus pacientes e convence o hospital a testar uma nova droga para Mal de Parkinson nos doentes. O resultado é que todos os pacientes acordam de um estado quase que vegetativo para a vida. Durante algum tempo eles voltaram a ter uma vida normal, até que efeitos colaterais perigosos da medicação começaram a surgir.
A medicação foi interrompida e os pacientes voltaram aos poucos a ficar catatônicos. O filme mostra a trajetória do médico até este ponto, mas se sabe que outras drogas foram testadas e outros momentos de despertar dos pacientes aconteceram, mas nenhum como o de 1969.
O filme é belíssimo e imperdível. Por se tratar de uma história real, nos mostra o poder do olhar verdadeiro de um ser humano a outros. Tantos médicos e enfermeiras havia naquele hospital e tantos tinham passado por ali. E foi preciso um, com o olhar atento e amoroso para transformar tantas vidas que ali não tinham valor.
O paciente mais importante, Leonard, representado por Robert Deniro, era um homem que estava em estado catatônico há trinta anos. Ao despertar, ele ajuda o médico a descrever e registrar seus momentos quando doente. Ele aceita passar pelos testes de tratamento, mesmo com os terríveis efeitos colaterais.
A interpretação de Deniro é a melhor que eu já vi. E numa das mais comoventes cenas do filme, Leonard se despede de uma jovem, pela qual se apaixonara após o seu breve despertar. Neste momento, cheio de tiques e espasmos musculares, ele se envergonha, afirmando que não mais se veriam. Após o paciente se levantar, a jovem aproxima seu corpo e se encaixa no ator de forma a dançar lentamente com ele. Os espasmos e tiques diminuem até desaparecerem por completo.
A cena representa um pequeno momento de paz, de cura para um doente que passava o dia se contorcendo. Um instante de despedida, de amor e de vergonha, torna-se um momento de redenção, de compaixão e verdadeiro amor ao próximo.
Este tipo de momento se torna inesquecível, um marco na vida de uma pessoa.
Fato é que os filmes estão cheios de cenas assim. Baseados na vida real. Um pequeno espaço de tempo, um instante de segundo, que pode mudar toda uma vida. O abraço que se dá em um filho num momento de tristeza. A palavra suave que transforma um momento de raiva em silêncio. O olhar que doa cumplicidade e companheirismo num momento de solidão da alma. E o sorriso que cura as nossas tristezas mais profundas.
Assim como um momento pode ser mudado por gentilezas, o mesmo pode acontecer de forma contrária. A palavra errada num momento de ira, o grito onde deveria haver o silêncio e ao invés do sorriso transformador, a face repreensora.
Não é fácil ser bom o tempo todo, nem amável, pois estamos todos em constante mudança, passando por situações transformadoras. Mas devemos apreender a nos acalmar por dentro, para que nem mesmo as piores situações nos tirem a paz. E assim o poder de mudar um pequeno instante.
O amor e a gentileza que moram em nós, têm o poder de mudar momentos, mudar vidas e histórias. É assim que mudamos o mundo: a partir de nós mesmos!