Nos últimos dias, vi algumas cenas em um curto espaço de tempo, que me fizeram refletir. Primeiro, vi uma moça linda, bem vestida, caminhando de volta ao seu trabalho logo após o almoço. Apesar de sua beleza, ela carregava o peso do luto. O luto em dobro: do pai e do irmão, que foram embora no mesmo dia. Seu semblante era vago e seu caminhar era pesado. Por um bom tempo ela vai carregar o peso do mundo em suas costas. Uma dor que ela não pode dividir com ninguém, uma dor que só a ela pertence. Nenhuma palavra pode tirar o peso de seus ombros. Apenas ajuda-a a suportar. Dei nela um abraço, com o sincero desejo de vê-la melhor, mesmo sabendo que esse tipo de dor só passa com o tempo. Muito tempo.
No caminho para casa, vi um homem tão pobre e sujo, que seu caminhar parecia mostrar sua total falta de perspectiva na vida. Suas roupas rasgadas, a barba e o cabelo longos, o suor de seu rosto: tudo falava por ele, escancarando tudo o que não tinha. Nem por dentro e nem por fora. Eu apenas olhei e lamentei. Debaixo de tanto sol, ele não parecia ter outra roupa para vestir, senão aquela: quente, inapropriada, rasgada e suja.
Ainda no mesmo caminho, vi um senhor de cabelos brancos, descalço, vasculhando sacos de lixo de um bar. Ele carregava outro grande saco, provavelmente de material reciclável. Me chamou a atenção a dor que sentia nas costas, cada vez que se abaixava para remexer o lixo. Ele se movia com muita dificuldade. Mais uma vez eu me lamentei e fui embora.
Me lembrei que um dia antes havia visto um cachorro na estrada. Tão magro, mas tão magro, que me fez parar, para tentar alimentá-lo. Em vão joguei pedaços de queijo para ele na beira da estrada. Ele não comeu e se afastou rapidamente temendo a minha presença. Me senti inútil com minha ajuda falha e despreparada.
No dia seguinte, um colega de trabalho, que depois de vinte anos, teve que se despedir de todos os amigos da empresa em que fez parte. Na minha vez de abraça-lo, percebi nitidamente, que seu queixo tremia. Ele segurava o choro. Qual a dor de ter que se despedir de uma história depois de tantos anos? Qual o sentimento de não rever mais dezenas de pessoas, após vinte anos convivendo com as mesmas? Eu não sei. Mas eu imagino o quanto dói.
Dói viver num mundo tão cheio de dores, feridas e incertezas. Pesos que não são nossos e outros que só a nós nos pertence. Muitas vezes sofri e senti pena de pessoas, bichos, momentos e histórias. Hoje acho que só lamento. Finalmente eu entendi, que cada um tem o seu caminho, o seu destino traçado de forma que cada um aprenda aquilo que necessita.
Não somo seres iguais. Nascemos diferentes e morremos diferentes. Cada um com um talento, cada um com um defeito. Nesta trajetória chamada vida, cada um leva o seu fardo. E com ele as suas devidas lições.
Cabe a nós, sempre que possível, estender a mão, dar um abraço ou um sorriso. Pois ainda que diferentes, também somos iguais, na pequenez e inconstância da vida, vulneráveis às suas dores e surpresas: ora boas, ora ruins, ora tão trágicas.
Lamentar-se é natural. Fechar os olhos: jamais. Um abraço pode parecer pouco, ou um pedaço de pão. Mas pode ser que seja a salvação da alma de alguém, ao menos que por um instante. E se assim for, o encontro dessas almas terá valido a pena por uma eternidade.
Abrace e sorria, dê um aperto de mão! De coração! Para aquele, que dele tanto necessita, mas nem força tem para abrir os braços ou levantar seus olhos. Porque hoje pode ser alguém na rua, no trabalho ou em um lugar qualquer.
Mas amanhã pode ser você.