“Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir”.
Nada mais verdadeiro para quem escreve. Quando se escreve, também se extravasa, se organiza as ideias, se arrumam os sentimentos, se põe pra fora toda dor e todo amor, que no peito já não cabem. E ainda que a maioria não compreenda, é nesse momento, que nasce a compreensão daquele que escreveu. Tudo passa a ter muito mais sentido.
Um grande amigo uma vez me disse: “Carol, é um perigo andar com você…, você escreve sobre todo mundo que está à sua volta”. É verdade, sabia que ele tinha razão.
Quando bem mais jovem, eu achava que escrever dependia da inspiração de um momento de muita tristeza ou de grande paixão, o que explica meus poucos textos na infância e na juventude. Com o passar dos anos entendi que inspiração é a própria vida: cada momento, cada pessoa, todo e qualquer pulsar.
Amor, ódio, tédio e até falta de inspiração vem a ser motivo de inspiração.
Apesar dos temas proibidos, para mim não existe tabu. Também adoro escrever sobre o mais delicado dos assuntos: sexo, desejo, pornografia.
Mas para os aspirantes a escritores, uma dica: não se escreve de forma direta sobre algo que não se gosta. O sentimento negativo é sentido nas palavras e pode causar mal-estar e não aceitação imediata. O caminho é escrever sobre o contrário, e discretamente se joga no texto uma crítica àquilo que não se deseja. Primeiro se aponta o bom, se escancara e prova a existência daquilo que vale a pena, para em seguida, de forma discreta e muito mais eficiente, jogar no texto o contraponto, aquilo que se quer atacar com unhas e dentes.
Apesar de eu achar a coisa mais fácil do mundo escrever sobre mim mesma, há uma outra grande verdade sobre o mesmo ponto: é extremamente difícil escrever sobre mim mesma sem atingir o “outro”, quando se trata de uma experiência ruim com mais uma ou mais pessoas.
Vários vilões passam por nós durante a vida, sendo que alguns deles permanecem uma vida inteira. E por vezes, por motivo de força maior, o deixamos no anonimato. Escrevo isso, porque hoje desejei muito escrever sobre algo que foi espetacular para mim.
Semana passada alguém me disse: “Você está fazendo tudo certo! ”.
Mediante à situação que envolve outras pessoas e passados que trariam um dos meus vilões à tona, me limito a contar o prazer de ouvir tal frase. Acostumada a receber críticas, numa situação única, eu ouvi algo que me renovou como ser humano.
Como escritora, me coço inteira e sinto cólicas de vontade de escrever sobre tudo e sobre todos. Sonho com libertadora liberdade. Mas há de se levar em consideração os que não terão a capacidade de se defender com palavras bem ou mal escritas. Lá está a ética da vida, protegendo os vilões, que nos atormentam.
No mais, seja sobre sexo ou ainda sobre tédio, tudo é mais do que inspiração, vira história, vira vida em palavras, que se perdem logo depois de serem lidas ou transformam quem as leu.
Sobre o que escrever? Sobre tudo.
Primeiro: sentir.
Depois: coragem!