A vida é realmente incrível!
Sempre me senti uma estranha no ninho. À frente de meu tempo. Desde cedo, me acostumei aos conselhos do tipo: não seja assim, não fale isso, não sonhe tanto, não escreva desse jeito, blá blá blá. E isso acabou me intensificando, pois tive que lutar duramente comigo mesma e com o mundo que me rodeava, para acreditar naquilo que era.
Demorou. E foi sofrido. Mas chegou um tempo em que realmente entendi quem eu era. E mais: eu gostei daquilo! Percebi que era diferente da maioria das pessoas, porque costumava dizer o que pensava, fazia e acreditava, ainda que fosse o que outros não estavam dispostos a ouvir ou aceitar.
Com mais tempo ainda, senti que não precisava ser aceita por ninguém, ter sido aceita por mim mesma me bastava. Carta de alforria cedida à alma. Sonhada e valiosa liberdade: ser quem se é.
Mas hoje eu confesso que a barra pesou. Continuo adorando quem eu sou. Gosto da minha autenticidade única. Minha honestidade em dizer o que penso e o que sinto. Coisa rara. Escancaro minhas dores e meus tantos defeitos. Enquanto alguns se doem por isso. Como se houvesse perfeição em qualquer pessoa neste mundo.
O fato é que os dias realmente ficaram difíceis. Até a pessoa mais importante da minha vida se voltou por um instante contra aquilo que sou.
Insatisfeita com importante atendimento, reclamei, mostrei o que estava sentindo. Não gostaram.
Dias antes me senti encantada com uma pessoa que pregava a humanização de forma apaixonante. E não é que a tal pessoa me mostrou de forma nada humanizada, que eu não poderia me encantar? Não que a atitude (ou falta dela) fosse novidade. Mas ver a desumanização do então “pregador” foi contradição demais, um banho de água fria com pedrinhas ríspidas de gelo.
Me perguntei: em que mundo eu estou? Me parece que estou andando na direção contra tudo e contra todos. Honestidade é algo que a sociedade não quer de verdade. Hipocrisia e máscaras valem mais.
Lembro até hoje, quando engravidei aos dezoito anos de idade e muitos comentando o caso, apontavam o dedo pra mim na rua. Enquanto eu calava os vários abortos que ocorriam ao mesmo tempo na pequena cidade, outros sentiam que tinham a falar da minha gravidez.
Eu nunca fui fumante ou usuária de droga, mas minha personalidade impertinente deu bem mais o que falar. Nunca traí ninguém, mas seguir meu caminho sozinha, foi para muitos, algo pior do que as traições que eu mesma sofri. Trair alguém pode. Não se trair e ser autêntico, não!
Hoje minha autoestima tinha tudo para estar no chão. Nem sei como não está. Talvez tenha entendido finalmente que não vim a este mundo para ser amada e aceita. Eu vim mesmo é para andar na contramão!
Desculpe! Sou diferente sim, mas não é por mal. Aos que estão em meu caminho, com licença! Seu aborrecimento por me ver passar em outra direção, não muda quem eu sou. Seu desgostar de minha pessoa, não diminui meu amor próprio. E nem o mundo inteiro contra mim, alteram aquilo que eu acredito: eu sou uma pessoa e tanto. E até dói às vezes em mim, mas a transparência da minha alma parece incomodar bem mais a sociedade maquiada que habito.
Sabe o borrão do batom ou do rímel que persiste em aparecer?
Então… Sou eu, insistindo em ser quem eu sou!